PCC faz parceria com outros grupos criminosos para roubos milionários no Brasil e Paraguai
- Politiza MT
- 16 de out. de 2024
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Uma parceria entre duas facções criminosas, o Primeiro Comando da Capital (PCC), tida como a maior facção brasileira, e a Bala na Cara, a maior do Rio Grande do Sul, tem levado a roubos milionários de carros-fortes, depósitos de valores e bancos no Brasil e no Paraguai. Somadas, as cifras levadas passam do bilhão, calcula a Polícia Federal.
A união entre os dois grupos criminosos rendeu e segue rendendo uma série de ocorrências que colocam a PF, o Ministério Público Federal e forças estaduais de segurança em alerta. Os roubos têm resultados milionários, esquemas cinematográficos e deixam cidades aterrorizadas.
Entre os casos recentes e de cifras vultosas está o do aeroporto de Caxias do Sul, na serra gaúcha, em 19 de junho deste ano. Com o Aeroporto Salgado Filho fechado em Porto Alegre devido às enchentes do fim de abril e início de maio, o fluxo aéreo foi transferido para a estrutura em Caxias.
Por volta das 19h30 daquela quarta-feira, os bandidos chegaram com veículos adesivados como se fossem da Polícia Federal. Eles também usavam roupas similares às da PF, o que facilitou a abertura dos portões. Renderam funcionários e começaram a caçada pelo dinheiro, que estava em uma aeronave. Depois, carregaram veículos blindados com R$ 30 milhões roubados. Imagens das câmeras de monitoramento registraram toda a ação. Parte do bando usou uma van plotada como veículo escolar para facilitar a fuga.
Na saída do aeroporto, os ladrões entraram em confronto com a Polícia Militar e deixaram para trás um dos carros, onde estavam cerca de R$ 15 milhões. Outros R$ 14,4 milhões foram levados.
O confronto deixou dois mortos, um dos criminosos e o 2º sargento da Brigada Militar do Rio Grande do Sul Fabiano Oliveira, de 47 anos. Um segundo suspeito morreu em São Paulo no decorrer das investigações - também em confronto com a polícia após resistir à prisão.
As investigações da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio (Delepat) da Polícia Federal identificaram os envolvidos. No mês passado, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia à Justiça Federal.
“O MPF denunciou os envolvidos por crimes como latrocínio (roubo seguido de morte), organização criminosa com uso de arma de fogo, explosão, entre outros. Treze dos denunciados estão presos”, disse em nota o MPF.
Ao todo, foram 19 denunciados. Seis são procurados. Todos vão responder por pelo menos seis crimes. Segundo o MPF, trata-se de membros do PCC ou do Bala na Cara. Do total levado, menos de R$ 100 mil foram recuperados e a PF pediu o bloqueio de 19 contas bancárias e apreendeu 16 veículos.
Na denúncia, o MPF reitera a necessidade de os criminosos tidos como de alta periculosidade seguirem para presídios federais de segurança máxima, onde ficarão isolados e distantes da linha de comando das novas ações criminosas do bando que segue nas ruas.
Roubo cinematográfico na fronteira teve um ano de organização e túnel de 150 metros
Poucos meses antes do maior roubo da história do Rio Grande do Sul, em fevereiro deste ano, criminosos do PCC e do Bala na Cara realizavam o segundo maior roubo da história do Paraguai, porém, sem disparar um único tiro e sem levantar suspeitas.
O crime levou tempo para ser arquitetado: as investigações revelaram que membros do PCC e do Bala na Cara haviam cruzado a fronteira com o país vizinho um ano antes para preparar o roubo, que custou milhões para ser efetivado. Investigações da Polícia Nacional do Paraguai e da Polícia Federal brasileira revelaram que, no fim de 2022, um grupo ligado às duas organizações criminosas parceiras, envolvendo homens e mulheres, alugou imóveis em Cidade do Leste para planejar tudo.
Esses imóveis ficavam no centro comercial da principal cidade do interior do Paraguai e serviram para abrigar faccionados e camuflar a escavação de um túnel de 150 metros que saía de um dos apartamentos locados, dando acesso à Associação dos Cambistas de Cidade do Leste, no centro comercial do principal destino de compras do país.
Durante um ano, grupos de trabalho se revezavam nas escalas de escavação, dia e noite, sem levantar suspeitas. Em algumas ocasiões, o alarme da associação chegou a disparar. Seguranças e policiais foram acionados, porém, nunca identificaram nada de anormal.
No fim de semana de 3 e 4 de fevereiro o roubo foi consumado. Os valores precisos nunca foram divulgados porque muitos cambistas que trabalhavam de forma autônoma e sem legalização jamais registraram boletim de ocorrência. Tanto a PF quanto a Polícia Nacional do Paraguai estimam que tenham sido levados de US$ 15 milhões a US$ 16 milhões – variando de R$ 75 milhões a R$ 80 milhões pela cotação na época.
“Tem-se observado essa parceria estratégica entre o PCC e a facção Bala na Cara em ocorrências assim. Elas se tornaram parceiras para roubos milionários dentro e fora do Brasil por uma série de situações, entre elas a necessidade de uma organização com poder financeiro para ações desta proporção, que custa muito caro”, conta o delegado-chefe da PF em Foz do Iguaçu, Marco Smith, que participou das investigações.
Segundo Smith, as apurações revelaram que pessoas ligadas à facção gaúcha foram responsáveis pelo aluguel dos imóveis e todo o trabalho operacional foi realizado por ambos os grupos. “Não houve registro de tiros, de confrontos, os criminosos entraram e levaram os valores que estavam nos cofres no fim de semana e tudo só foi descoberto no início da semana quando as pessoas chegaram para trabalhar”, descreve.
Os valores nunca foram recuperados e, dois dias após o crime, um suspeito brasileiro, de 42 anos, foi preso na cidade paraguaia de Capitão Bado, na fronteira com o Brasil, mas distante 500 quilômetros do local do roubo. Ele estava escondido em uma área de mata após o cerco contra o grupo criminoso se fechar.
Um paraguaio suspeito de dirigir um dos veículos que transportou os valores também foi preso no país vizinho na semana seguinte à ocorrência. Segundo o Departamento de Investigações de Delito de Crime Organizado do Paraguai, 15 foram identificados, mas não há confirmações de novas prisões.







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